quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pressionando alto em três diferentes Plataformas Táticas

Com o conceito da estruturação do espaço bem definido e a boa compreensão das inter-relações pode-se pressionar alto em várias Plataformas Táticas

Desenvolver conteúdos durante o processo de treino mostra-se primordial não somente por parecer “pedagogicamente correto” ao olhos de todos, mas por estar fortemente ligado à qualidade do trabalho e aos resultados obtidos. Compreender essa idéia derruba o antigo paradigma de que deve-se dar ênfase a boa formação para jovens atletas em detrimento à conquista de títulos nas categorias de base. Para equipes profissionais, o desenvolvimento de conteúdos dará sustentação ao trabalho e continuará a formação dos atletas (que não termina quando ele finaliza seu ciclo nas categorias de base) agregando valor ao clube que terá permanentemente seus jogadores evoluindo.
Pode-se ter como exemplo, o conceito da estruturação do espaço em função da posição da bola (marcação zonal), de fechar os espaços como equipe (Amieiro, 2005) e as possibilidades de interações posicionais que surgem a partir daí, criando variações no desenho do meio de campo e da linha de ataque que permitirão à equipe (ao treinador) mudar de acordo com a necessidade que o jogo exige. A proposta de pressionar na linha 1 (pressionar alto) apresentada nas três figuras a seguir, com 5 linhas de marcação (pressionando em profundidade) pode ser utilizada, por exemplo, sempre que for necessário recuperar rápido a posse da bola, dando pouco tempo ao adversário para tomar decisões. Os ajustes estruturais que acontecem de uma plataforma para outra geram mudanças nas interações, porque estrutura e padrão estão sempre intimamente relacionados. A partir das figuras, poderá surgir a discussão sobre pressão e pressing. Como os conceitos sobre essa discussão não estarão presentes, o termo pressão foi utilizado.

Na figura 1, a equipe que ataca no sentido da seta ao lado do campo está estruturada em um 1-3-4-1-2 com dois volantes, dois alas e um meia ofensivo no meio de campo. Seguem abaixo as dinâmicas de cada setor da equipe.   
- Goleiro (vermelho): fora da grande área
- Linha defensiva (azul): próxima ao meio campo, com os 3 zagueiros realizando uma flutuação para o lado da bola
- Meio Campo (azul escuro): o ala do lado da bola fecha a paralela, o ala do lado oposto a virada de jogo (caso a bola chegue no lateral que está aberto este ala temporiza a jogada) e o meia ofensivo ocupa o espaço entre os dois atacantes
- Atacantes (azul claro): o atacante do lado da bola pressiona a mesma e o do lado contrário tira a opção de passe curto para trás

Figura 1 - Pressão na linha 1 jogando no 1-3-4-1-2

Na figura 2, a equipe que ataca no sentido da seta ao lado do campo está estruturada em um 1-3-4-2-1 com dois volantes, dois alas e dois meias ofensivos no meio de campo. Seguem abaixo as dinâmicas de cada setor da equipe.  
- Goleiro (vermelho): fora da grande área
- Linha defensiva (azul): próxima ao meio campo, com os 3 zagueiros realizando uma flutuação para o lado da bola
- Meio Campo (azul escuro): o ala do lado da bola fecha a paralela, o ala do lado oposto a virada de jogo (caso a bola chegue no lateral que está aberto este ala temporiza a jogada), o meia ofensivo do lado da bola pressiona a mesma e o meia ofensivo do lado oposto ocupa o espaço entre o meia que pressiona e o atacante
- Atacante (azul claro): tira a opção de passe curto para trás


Figura 2 - Pressão na linha 1 jogando no 1-3-4-2-1
 
Na figura 3, a equipe que ataca no sentido da seta ao lado do campo está estruturada em um 1-4-3-2-1 com um volante, dois alas e dois meias no meio de campo. Seguem abaixo as dinâmicas de cada setor da equipe.  
- Goleiro (vermelho): fora da grande área
- Linha defensiva (azul): próxima ao meio campo, com o lateral contrário ao lado da bola um pouco mais distante do zagueiro do seu lado do que as distâncias mantidas entre os outros 3 jogadores da linha (linha elástica) para manter um bom equilíbrio horizontal (caso a bola chegue no lateral adversário que está aberto este lateral temporiza a jogada)
- Meio Campo (azul escuro): mantendo a estrutura proposta (um volante + dois alas + dois meias), o ala do lado da bola fecha a paralela. Em relação aos meias que jogam por dentro, o do lado da bola pressiona a bola enquanto o outro tira as opções de passe para as regiões centrais à frente do volante e do ala oposto
- Atacante (azul claro): tira a opção de passe curto para trás no zagueiro

Figura 3 - Pressão na linha 1 jogando no 1-4-3-2-1

Todas as dinâmicas apresentadas são consequência do processo de treinamento que levou os atletas a resolverem coletivamente o problema da ocupação do espaço aplicando as soluções que mais se aproximavam das suas possibilidades e características. A variação das plataformas dará ao treinador a possibilidade de ter a pressão alta como conteúdo de seu Modelo de Jogo estando com um, dois ou três atacantes em campo. O princípio é o conceito da pressão alta, não a plataforma tática.  

Referência Bibliográfica

Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor.

Leandro Zago

sábado, 24 de abril de 2010

Modelo de Unidade de Treino



Esse artigo tem por objetivo detalhar de forma um pouco mais aprofundada a Unidade de Treino disponível para download, acrescentar algumas informações que não estão presentes ao lado dos exercícios. Mais uma vez cabe destacar que se trata de uma Unidade de Treino aplicada na segunda quinzena do terceiro mês de trabalho (portanto já durante a competição) e está integrada a um processo que iniciou-se no primeiro dia do trabalho com a equipe. Como as possibilidades da estruturação do Modelo de Jogo são quase que infinitas e cada treinador irá se deparar com uma realidade, a idéia da apresentação dessa pequena parte do trabalho é sugerir alguns caminhos e iniciar alguns conflitos na forma de perspectivar o treinamento, para que cada um crie sua forma de trabalhar de acordo com as convicções que carrega.

- O Modelo de Jogo
Basicamente, nos quatro grandes momentos do jogo, esse é o comportamento a ser potencializado nas atividades:
         - Organização defensiva: impedir a progressão do adversário;
         - Transição ofensiva: tirar a bola da zona de pressão;
         - Organização Ofensiva: progredir de forma apoiada ao ataque;
         - Transição defensiva: recompor-se rapidamente atrás da linha da bola

- O Aquecimento

Estão propostas três atividades para o aquecimento, para que uma delas seja escolhida para a preparação dos atletas nesta sessão. Cabe ressaltar que no momento do aquecimento, o grupo já está reunido a algum tempo, teve uma conversa inicial com o treinador e a sessão de treino está em andamento, por isso o enfoque no aquecimento é de uma atividade introdutória e que terá relação com o conteúdo a ser desenvolvido em seguida. Note que nas três atividades, os atletas estão passando por situações problema similares às que serão propostas na seqüência.
Somando-se o tempo que os atletas reúnem-se com o treinador, mais um tempo aproximado de quinze minutos para o aquecimento tem-se em torno de trinta minutos destinados a este momento do treino.

- Exercício 1

Com o estreitamento do campo de jogo, a distribuição dos cones e a pontuação na “zona azul”, há uma tendência para a dinamização do jogo mais em profundidade do que em largura. Princípios estruturais como a profundidade (ataque) e o bloco (defesa) aparecem como meios devido à exigência da atividade.

- Exercícios 2 e 3

Essa atividade proporciona a utilização de toda a largura em meio campo, potencializando alguns princípios estruturais como a amplitude (para quem ataca) e o equilíbrio vertical (para quem defende). Inclusive, o posicionamento dos cones amarelos indica bem essa questão.
A “zona azul” inserida no Exercício 3 cria novas problematizações para a atividade, pois a tentativa de invasão na mesma faz com que a gestão do espaço para ambas equipes se altere sensivelmente.

- Exercícios 4 e 5

Com a aproximação do desenho pretendido, o número de atletas bem próximo do jogo formal e o espaço pouco maior que meio campo, essa atividade visa a intensificação (não intensidade) do cumprimento dos objetivos obrigando as equipes a se ajustarem rapidamente aos estímulos do adversário.
No Exercício 5 foi colocada uma regra que a princípio parece em desacordo com o Modelo de jogo da Equipe, porém esse tipo de alteração, numa perspectiva sistêmica, gerará alguns comportamentos que podem ser importantes para o desenvolvimento do jogar da equipe, inclusive com o aparecimento de novos problemas a serem resolvidos.

Algumas informações são importantes sobre a Unidade de Treino:
- o tempo total de treino foi de duas horas (conversa com o treinador + aquecimento + parte central)
- esse treinamento foi realizado numa quinta-feira em uma semana com jogos aos domingos;
- os deslocamentos de um dos atletas (escolhido aleatoriamente) foi mensurado com GPS e os dados apontam para uma especificidade excelente;
- a freqüência cardíaca também foi aferida em alguns atletas (inclusive o atleta que portava o GPS) durante todo o treinamento;
- a quantidade de esforços anaeróbios láticos e aláticos durante a parte central (uma hora e meia) foi superior àquela referida por inúmeros autores que estudam as características do jogo de futebol, apontando para o fato de que com um processo bem estruturado, é possível manipular a performance dos jogadores no jogo.
 

Leandro Zago

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

As Dominantes do Jogo de Futebol e a Complexidade

Com o aparecimento de novas metodologias de treinamento em futebol, com destaque àquelas essencialmente apoiadas nas teorias da complexidade, novas discussões têm surgido acerca dos temas “treinamento” e “periodização” dentro do futebol e um renovado conceito de processo vem emergindo em resposta a tais dilemas. Para os profissionais habituados a trabalhar com as metodologias tradicionais, os conteúdos do treinamento estão bem definidos e são desenvolvidos cada um a seu momento de uma maneira fragmentada (e a palavra “fragmentada” aparece aqui não como crítica, mas como constatação), com uma ocupação das sessões de treino da semana dando ênfase na dominante física. Para estes, uma metodologia que defenda a integração das dominantes física, tática, técnica e mental / emocional, manifestando – se simultaneamente nas atividades propostas, aplicando os conceitos de volume, intensidade e densidade com outros objetivos e com o controle do treino sendo feito através de outras variáveis que não as corriqueiras ainda parece uma idéia nebulosa e pouco prática.
A metodologia mais evidenciada nessa nova tendência é a Periodização Tática (PT), que propõe toda a estruturação dos treinamentos, desde a pré-temporada, balizada pelo Modelo de Jogo que se pretende construir e que deve evoluir continuamente atingindo seu ápice no final da temporada. A PT não prevê queda de rendimento para uma retomada posterior, o nível de elaboração do Modelo de Jogo deve chegar a níveis superiores seqüencialmente. Para que esse fenômeno ocorra, deve-se selecionar os conteúdos, estabelecer a forma como eles serão desenvolvidos e estabelecer um processo com base pedagógica que será concretizado através de uma didática coerente.
Cada uma das dominantes anteriormente citadas possui seu próprio conteúdo, porém, há uma diferença na forma de desenvolvimento das mesmas, visto que, elas devem estar presentes no treino de maneira similar àquela em que se manifestam no jogo como podemos observar na figura 1.

Figura 1 – Paradigmas de manifestação das dominantes no Jogo

Ao aplicar um paradigma cartesiano para a análise do jogo, possivelmente será dele retirado um modelo parecido com o Interdisciplinar (não é o objetivo aqui entrar nesta discussão, mas deve-se ressaltar que no futebol profissional no Brasil atualmente algumas equipes ainda não atingiram este estágio, trabalhando num modelo Multidisciplinar, sem a mínima interação entre as áreas) e conseqüentemente o treinamento desintegrará as partes do jogo, para potencializá-las separadamente e num momento posterior integrá-las na tentativa de transformar os ganhos isolados em aumento no rendimento do jogo. Para um modelo pautado nas teorias da complexidade, o jogo não deverá de desintegrado, mas “fractalizado”, ou seja, desenvolvido através de atividades que representem fractais (partes do todo que contém todas as características do todo, mantém a identidade do todo) do jogo formal, com modificações no tempo, no espaço, no número de jogadores, na regra, entre outras variáveis, mas que sempre mantenham relação com a unidade funcional do jogo. E para manter íntima relação com o jogo, as atividades devem ter conteúdos táticos, físicos, técnicos e mentais, porque, dentro do processo de evolução do “jogar” da equipe são estes (os conteúdos) que permitirão que a modelação pretendida pelos membros da comissão técnica se concretize e se transforme em resultados consistentes.
Para finalizar, há duas informações muito importantes para os profissionais interessados nessas novas metodologias que devem ser assimiladas para que não ocorram “enganos”. A primeira é esclarecer que mini-jogos e / ou jogos reduzidos não são as atividades citadas responsáveis por construir o Modelo de Jogo. As atividades referidas são jogos condicionados que possuem uma relação entre eles durante todo o processo e que são únicos para cada treinador que trabalhe nessa perspectiva. A segunda informação é que não dá para desenvolver uma parte do trabalho pautada na complexidade e outra não, é uma questão de filosofia, ou a comissão técnica tem conhecimentos sólidos para desenvolvê-la ou trabalha dentro daquilo que conhece mais profundamente.

Leandro Zago