domingo, 18 de outubro de 2015

Metodologia de trabalho de José Mourinho segundo o livro "Por quê tantas vitórias?"

Metodologia de trabalho de José Mourinho - Periodização Tática

Segundo o livro "Por quê tantas vitórias?"

Lógicas Processuais

  • Progressão
Ocorre em três níveis:
- ao longo do ano;
- ao longo da semana (em função do jogo anterior e do jogo seguinte);
- ao longo de cada unidade de treino.
  • Distribuição de Conteúdos
Norteadores das unidades de treino:
- princípios da progressão complexa;
- princípio da alternância horizontal em especificidade.
  • O Treino
Fatores a considerar:
- jogar com espaço de jogo;
- a duração;
- a complexidade dos comportamentos a vivenciar;
- só é bom quando consegue operacionalizar o que é a idéia-chave;
- encontrar exercícios que induzam a equipe a fazer o que faz no jogo;
- elevar a performance coletiva.
  • Intensidade
- concentração decisional;
- de concentração;
- estar no jogo é estar a pensar e tomar decisões;
- exige treino e aprendizagem estar concentrado o máximo de tempo possível no jogo.
  • Volume
- volume de intensidades máximas relativas;
- volume de princípios de jogo, semanalmente semelhante, é o núcleo duro do jogar, expressando seu crescimento qualitativo;
- se corresponde à densidade de intensidades máximas relativas, representa a vivenciação hierarquizada dos princípios de jogo.
  • Sustentação da Metodologia
- construção de uma forma de jogar;
- invenção e operacionalização de um modelo de jogo;
- coerência;
- integração (interação) de todos os fatores (dimensões) alicerçados na organização e preparação tática;
- o todo deve passar a ser superior a soma das partes.
  • Filosofia de trabalho
- o clube deve possuir um modelo de jogo e um modelo de treino perfeitamente definidos;
- uma coisa são princípios e outra é o sistema;
- deve haver uma cultura tática dentro do clube.
  • Recuperação
Fatores a considerar:
- mental-emocional;
- físico;
- recuperar em especificidade;
- a matriz do recuperar relacionada a matriz do treinar;
- deve ocorrer ao nível das três estruturas: locomotora, orgânica e perceptivo-cinética;
- pode ocorrer onde deverias estar o esforçar: no jogo.
  • Descansar com bola
- bom jogo posicional;
- ocupação racional do espaço de jogo;
- posse de bola sem profundidade;
- a posse com o intuito de não prolongar os desgaste emocional e físico.
  • Fadiga
Caracterizações da fadiga:
- central (recuperação mais lenta, maiores preocupações);
- periférica.
  • Treino - dominante física
Tipo de treino / dia da semana:
- quarta-feira (elevada tensão específica - descontínua): boa velocidade de contração, curta duração e tensão elevada (grande densidade de contrações excêntricas);
- quinta-feira (dinâmica específica – menos descontínua): aumento da duração da contração e diminuição da velocidade e tensão da contração;
- sexta-feira (elevada velocidade de contração – média descontínua): elevada velocidade de contração, curta duração e não máxima tensão. Menor desgaste mental-emocional e físico das três unidades.
  • Treino – dominante tática
- quarta-feira (elevada tensão específica - descontínuo): subprincípios, subprincípios dos subprincípios (menor complexidade, subdinâmicas do jogar);
- quinta-feira (dinâmica específica – menos descontínuo): grande princípios do modelo de jogo – organização ofensiva, defensiva e transições – e a articulação entre eles, mais a preparação estratégica para o próximo adversário;
- sexta-feira (elevada velocidade de contração – média descontínua): subprincípios, subprincípios dos subprincípios, preservação do desgaste, incide sobre a velocidade de execução do desempenho e caracteriza-se pela unidade de maior ênfase à parte estratégica do adversário.
  • Hábitos
- saber fazer que se adquire na ação;
- economia neurobiológica;
- treinar: aprendizagem pela repetição.
  • Treinando concentração
- através de exercícios que a exijam;
- exercícios que obriguem a pensar, se comunicar, com complexidade crescente, com concentração permanente;
- não podem ser exercícios demasiadamente fáceis;
- quando os jogadores resolvem os problemas de determinado exercício deve-se buscar novos exercícios.
  • Trabalho semanal
- semanas de trabalho-padrão que obedecem a um conjunto de princípios metodológicos;
- diferenças entre a semana com um jogo e com dois jogos.
  • Padrões Táticos - Técnicos semanais
- do geral para o particular;
- gerais: aspectos imutáveis no meu modelo de jogo, os grandes princípios de jogo e os principais subprincípios que lhes dão corpo (treinados todas as semanas)
- particulares: detalhe tático posicional tendo em conta o lado estratégico;
- em semanas com dois jogos os grandes princípios são treinados no dia anterior ao jogo, quase sem competitividade com trabalho, teórico no gabinete;
- no sábado recuperação ativa num contexto de introdução a competição.
  • Exercícios
- aproximar o acontecer no exercício a configuração do acontecer em jogo que se pretende;
- principio metodológico das propensões;
- densidade;
- é uma determinada configuração geométrica e simbólica que condiciona / fomenta um determinado acontecer relacionado contra o todo que se deseja;
- tem que conter o plano do aleatório do contingente do imprevisível;
- a estrutura acontecimental do treinar tem que refletir a natureza da estrutura acontecimental do jogar;
- vivenciar dinâmicas;
- mecanismo não mecânico;
- automatismos libertadores.
  • Adversários
- muitas vezes apresentam um automatismo mecânico ao invés de uma dinâmica;
- previsão dos comportamentos do adversário;
- posicionar em algumas zonas mais importantes dos campos em função dos pontos fortes e fracos (detalhes posicionais);
- para conhecê-los são necessários quatro ou cinco jogos, movimentos-padrão, dinâmicas da equipe (André Vilas-Boas).
  • Descoberta guiada
- é preciso provar-lhes que estamos certos;
- jogadores vão descobrindo as coisas a partir de pistas que lhes vou dando;
- construo situações de treino que os leve para um determinado caminho;
- processo que visa a aquisição de um saber fazer sobrecondicionado ao saber sobre esse saber fazer;
- objetiva fazer com que os jogadores percebam e acreditem no modelo de jogo;
- instalação de um sistema de crenças.
  • Modelo de jogo
- passe e qualidade são fundamentais;
- assumir os jogos;
- para assumir o jogo é necessário ter a bola e usufruir dela;
- não se descaracterizar perante os adversários;
- mais importante é a própria equipe;
- mudar o sistema como alternativa de jogo, não pelo adversário;
- modelo de jogo perfeitamente definido, não fugir dele e acreditar nele;
- o mais forte que uma equipe pode ter é jogar como equipe;
- jogar como equipe é ter organização, ter determinadas regularidades que fazem com que no quatro momentos do jogo, todos os jogadores pensem em função da mesma coisa ao mesmo tempo;
- não dissociação entre defesa e ataque e suas respectivas organizações;
- em todos os jogos a equipe é preparada para ganhar;
- ênfase igual nas organizações ofensivas e defensivas;
- todos os jogadores tem funções ofensivas e defensivas, incluindo o goleiro;
- jogo e treino preparados de forma equilibrada;
- a equipe é um todo e seu funcionamento assim o é;
- todos os jogadores têm que participar dos quatro momentos do jogo;
- a coisa mais importante no futebol moderno além de marcar gols é ter a bola;
- alta circulação de bola e, para isso, bom jogo posicional, isto é, os jogadores têm que saber que em determinada posição há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no terreno de jogo que os permite antecipar a ação;
- campo grande a atacar, linhas juntas a defender;
- reação forte à perda da bola;
- uma estrutura fixa em termos posicionais e uma estrutura móvel, jogadores que tem posições fixas em campo e outros que, pela sua dinâmica tem mobilidade, sempre havendo um equilíbrio posicional;
- ter sempre a ambição de ganhar os jogos, sem perder a tranqüilidade e equilíbrio posicional;
- os jogadores devem manter uma linha de jogo ofensiva, ambiciosa, com nítida intenção de ganhar, sem nunca perder o controle do espaço, a sua tranqüilidade e a comunicação entre eles, o que é fundamental;
- defender bem e ter qualidade individual são aspectos cruciais;
- bom posicionamento defensivo enquanto equipe, formando um bloco coeso que possa jogar com as linhas muito juntas;
- muito trabalho de saída depois da recuperação da posse de bola;
- ter a capacidade de jogar de uma forma a defender e, depois em posse de bola, modificar aquilo que é fundamental: a recuperação da posições em campo, tirar a bola da zona de pressão, etc.
- tem como característica o “pressing alto zonal”, que é um meio para recuperar a bola e só faz sentido se depois a equipe souber fazer uso dessa posse;
- quer que sua equipe controle o jogo;
- jogue mais em ataque continuado;
- defender bem sem utilizar o princípio da aglomeração;
- defender bem é defender pouco, durante pouco tempo, é ter a bola o maior tempo possível, é estar a maior parte do tempo com a iniciativa do jogo, não tendo necessidade de estar em ações defensivas;
- defender bem é defender “pouco”, em termos de quantidade de tempo, mesclado com o momento da perda da posse de bola;
- preferência por defender longe do próprio gol, porque quando recuperar a bola estará mais próximo do gol adversário que é o objetivo do jogo;
- no alto nível: homem-a-homem não existe, zonal existe, mas não convence e a zona pressionante é o futebol de hoje e o futebol do amanhã;
- não há central de marcação, defende zonalmente com uma linha de quatro que bascula em função da bola;
- não existem duas zonas pressionantes iguais;
- a do Milan com três linhas pressiona em largura enquanto a de Mourinho (Porto, Chelsea) com seis linhas (4-4-2 losango) pressiona em profundidade;
- o posicionamento da pressão é em função do adversário e a equipe sabe como comportar-se contra determinado sistema;
- salvo raras exceções a equipe não muda de sistema em posse de bola, independente do adversário;
- sem bola, a equipe tem a capacidade de ler o sistema adversário e adaptar sua pressão ao posicionamento deste;
- não há o encaixe ao adversário;
- não se joga em função dos homens, mas em função dos espaços;
- bloco baixo é facilmente interpretável, sem a necessidade de grande liderança ou feedback, bastando definir a referência visual do bloco e nada mais;
- a liderança, dentro do processo defensivo, tem a ver sim com a basculação, com a zona e com a capacidade que alguns jogadores têm, pela sua posição em campo ou pela sua capacidade de análise do jogo, de orientar suas ações coletivas;
- há jogadores fundamentais na dinâmica defensiva;
- utilizar o bloco baixo, linhas juntas e tranqüilizar o jogo quando estiver difícil jogar numa zona pressionante ou fazer uma transição muito forte, por fadiga, por determinado ascendente do adversário ou porque o adversário tem uma determinada dinâmica ofensiva que está a criar algum tipo de problema;
- sob o ponto de vista da eficácia é muito mais fácil jogar bloco baixo do que bloco alto;
- para uma equipe que quer jogar em ataque continuado, que quer ter a posse de bola, a iniciativa do jogo, tem que ser uma equipe sempre bem posicionada, e isso só se consegue defendendo zonalmente;
- a forma de jogar da equipe é extremamente desgastante;
- quando não tem a bola, inicia logo as ações com vista a sua recuperação, mesmo que seja necessário ir à área do adversário;
- após recuperada a bola, tem que decidir se tem condições de sucesso para de imediato atacar e assim continuar o desgaste ou, não tendo condições, optar por descansar com bola circulando-a;
- a transição defesa-ataque tem que ter uma relação íntima com a forma ofensiva de jogar;
- quando uma equipe pressiona alto, precisa descansar durante o jogo;

  • Liderança
- gestão das derrotas igual à das vitórias;
- manter o grupo sob controle através da ampliação do modelo de jogo, torná-lo mais rigoroso;
- utilizar o 4-4-2 (mais complexo) em complemento ao 4-3-3 (menos complexo) como estratégia da evolução do modelo de jogo;
- utilizar exercícios mais complexos, que diminuam a eficácia dos jogadores no treino como estratégia de controle de concentração;
- os jogadores não adoram o treinador, adoram é trabalhar com ele.